terça-feira, 11 de maio de 2010
Olá pessoal!
Este texto, passará para a secção das Blood Fictions, e será a partir de agora postado semanalmente e não diariamente.
Hoje têm a segunda parte, mas a terceira só para a semana.
Este texto, passará para a secção das Blood Fictions, e será a partir de agora postado semanalmente e não diariamente.
Hoje têm a segunda parte, mas a terceira só para a semana.
A loira fantasma, por Noel Nascimento
"De repente - contavam - a loura estava "desaparecida" e sem deixar nenhum vestígio de sangue! Boquiabertos, três notívagos entreolharam-se estarrecidos. Quando as viaturas do Centro de Operações chegaram, só acharam uma bala amassada no chão do táxi. Então policiais e repórteres vasculharam o bairro e o cemitério, mas sem encontrar sinal algum de mulher baleada. Não podendo desvendar o mistério, já as nove horas da manhã, o delegado Adelmar declarou que a polícia não tinha condições de operar sobre fatos abstratos.
A cidade concreta, fundida pelo sol, amanheceu apavorada. A notícia da Loura Fantasma alastrou-se pelo país, anunciada com mais estardalhaço que o nascimento do bebê-diabo de São Paulo. Manchete de primeira página, precedia outros títulos nos jornais: "Morreu Massacrada nas Mãos do Marido Bêbado", "Atriz Morta Nua", "Rasgou Irmão a Faca", "Estradas Mataram 93 Pessoas em 25 Dias", "Disputaram Mulher a Bala". As denúncias sobre mortos e desaparecidos, ou torturas, eram desmentidas ou tinham pouca repercussão.
Na Rua das Flores só se falava em casos de almas de outro mundo. Num grupinho, Rei, que fora goleiro do Vasco da Gama, contava que ao pernoitar no estádio da Portuguesa Santista via um jogador de basquete que já havia morrido há mais de vinte anos; noutro, o jornalista Amatuzi se gabava de haver sido o primeiro a enamorar-se da Loura Fantasma, porém a seguira e ao encontrá-la sentada num muro, correu quando viu tinha o rosto de caveira. Nas casas, nos bares, em toda parte havia gente assustada. Na Delegacia de Trânsito, dois guardas diziam que, tempos atrás, seguiram uma loura bonita que desaparecera nas proximidades do cemitério municipal.
À tarde, o Secretário de Segurança declarou à imprensa: "A Secretaria da Segurança tem competência para o esclarecimento de fatos policiais e não sobrenaturais". Wilmar, além de perder cinqüenta cruzeiros da corrida, foi despedido pela "Rodotaxi", convidado a mudar-se da casa em que morava e ameaçado de abandono pela esposa.
- Estou sem ajuda e sem dinheiro. - queixou-se aos repórteres que o fotografaram ao portão no bairro Estribo Ahú. Vestia calça faroeste, blusa de lã aberta ao peito sobre a camiseta, desleixado e com ar de quem morre em breve. O táxi de prefixo 30 não se locomoveu durante o dia. Manfredo, que tem três filhos e mora na Vila Guarani, ficava no meio da aglomeração de curiosos. Desabafou, narrando o que acontecera ao seu genro:
- À noite, vou numa sessão de saravá, porque o negócio anda demais. O rapaz estava dirigindo o carro para mim e pegou um passageiro no Bairro Alto. Perto da igreja, meu genro olhou pelo retrovisor. Não havia mais ninguém. Perdeu oito cruzeiros da corrida.
Pouco a pouco, os fatos abstratos se esclareciam. Vinha à lembrança a loura que cortara os pulsos, outra que bebera formicida, ou a que fora estrangulada na pensão noturna da Praça Tiradentes. Dizia-se que os automóveis pareciam bordéis sobre rodas à noite, porém as pensionistas e as bailarinas deixaram de se aventurar sozinhas pelas ruas. A cidade assombrou-se com a revelação do mistério. Quem o desvendou foi Diamond, o restaurador de cadáveres. Sentado ante a mesa funerária, sob o quadro de um gato branco, ladeado por dois caixões mortuários de luxo recostados à parede, relatou a verdade na entrevista. Os olhos mórbitos brilhavam no rosto cheio e circundado pela cabeleira negra e solta sobre os ombros. As palavras soavam metalicamente:
- Ela já falou duas vezes comigo depois que morreu e, na próxima, vou apanhá-la. O nome dela é Claudia Regina. É loura, encorpada, e morreu atropelada por um carro na Avenida República Argentina. Fui eu que restaurei seu rosto mutilado no acidente. Ela foi enterrada como indigente, junto com outros defuntos no cemitério Santa Cândida. Três dias após baixar à cova, Claudia Regina procurara Diamond lá mesmo na funerária:
- Vim agradecer o trabalho feito no rosto de Claudia."
A cidade concreta, fundida pelo sol, amanheceu apavorada. A notícia da Loura Fantasma alastrou-se pelo país, anunciada com mais estardalhaço que o nascimento do bebê-diabo de São Paulo. Manchete de primeira página, precedia outros títulos nos jornais: "Morreu Massacrada nas Mãos do Marido Bêbado", "Atriz Morta Nua", "Rasgou Irmão a Faca", "Estradas Mataram 93 Pessoas em 25 Dias", "Disputaram Mulher a Bala". As denúncias sobre mortos e desaparecidos, ou torturas, eram desmentidas ou tinham pouca repercussão.
Na Rua das Flores só se falava em casos de almas de outro mundo. Num grupinho, Rei, que fora goleiro do Vasco da Gama, contava que ao pernoitar no estádio da Portuguesa Santista via um jogador de basquete que já havia morrido há mais de vinte anos; noutro, o jornalista Amatuzi se gabava de haver sido o primeiro a enamorar-se da Loura Fantasma, porém a seguira e ao encontrá-la sentada num muro, correu quando viu tinha o rosto de caveira. Nas casas, nos bares, em toda parte havia gente assustada. Na Delegacia de Trânsito, dois guardas diziam que, tempos atrás, seguiram uma loura bonita que desaparecera nas proximidades do cemitério municipal.
À tarde, o Secretário de Segurança declarou à imprensa: "A Secretaria da Segurança tem competência para o esclarecimento de fatos policiais e não sobrenaturais". Wilmar, além de perder cinqüenta cruzeiros da corrida, foi despedido pela "Rodotaxi", convidado a mudar-se da casa em que morava e ameaçado de abandono pela esposa.
- Estou sem ajuda e sem dinheiro. - queixou-se aos repórteres que o fotografaram ao portão no bairro Estribo Ahú. Vestia calça faroeste, blusa de lã aberta ao peito sobre a camiseta, desleixado e com ar de quem morre em breve. O táxi de prefixo 30 não se locomoveu durante o dia. Manfredo, que tem três filhos e mora na Vila Guarani, ficava no meio da aglomeração de curiosos. Desabafou, narrando o que acontecera ao seu genro:
- À noite, vou numa sessão de saravá, porque o negócio anda demais. O rapaz estava dirigindo o carro para mim e pegou um passageiro no Bairro Alto. Perto da igreja, meu genro olhou pelo retrovisor. Não havia mais ninguém. Perdeu oito cruzeiros da corrida.
Pouco a pouco, os fatos abstratos se esclareciam. Vinha à lembrança a loura que cortara os pulsos, outra que bebera formicida, ou a que fora estrangulada na pensão noturna da Praça Tiradentes. Dizia-se que os automóveis pareciam bordéis sobre rodas à noite, porém as pensionistas e as bailarinas deixaram de se aventurar sozinhas pelas ruas. A cidade assombrou-se com a revelação do mistério. Quem o desvendou foi Diamond, o restaurador de cadáveres. Sentado ante a mesa funerária, sob o quadro de um gato branco, ladeado por dois caixões mortuários de luxo recostados à parede, relatou a verdade na entrevista. Os olhos mórbitos brilhavam no rosto cheio e circundado pela cabeleira negra e solta sobre os ombros. As palavras soavam metalicamente:
- Ela já falou duas vezes comigo depois que morreu e, na próxima, vou apanhá-la. O nome dela é Claudia Regina. É loura, encorpada, e morreu atropelada por um carro na Avenida República Argentina. Fui eu que restaurei seu rosto mutilado no acidente. Ela foi enterrada como indigente, junto com outros defuntos no cemitério Santa Cândida. Três dias após baixar à cova, Claudia Regina procurara Diamond lá mesmo na funerária:
- Vim agradecer o trabalho feito no rosto de Claudia."
Etiquetas: Blood Fictions
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