quinta-feira, 27 de maio de 2010

"A loira fantasma", por Noel Nascimento (parte 3)

Olá pessoal!
Atrasada, mas cá está ela.
No próximo post obterão o a quarta parte da história e para a semana (dia 1 de Junho) a quinta.
Mais uma vez desculpem.

"A Loira Fantasma" (parte 3)

-Conhece a indigente morta? - perguntou-lhe Diamond.
- Sou eu mesma - respondeu, desaparecendo.
Outra vez, foi Ogacir, um dos empregados da empresa, que se encontrou com Claudia Regina, a qual lhe perguntou:
- Já foi descoberto o nome do motorista que me matou?
Quando eram realizados sepultamentos, Claudia Regina aparecia subitamente no coche fúnebre da funerária. Diamond recuperou-lhe o rosto no necrotério, quando estava de plantão. Ela vestia um conjunto branco e tinha no dedo um anel muito gasto, com o nome gravado de baixo de uma pedra vermelha. Ficando com o anel, Diamond noivou com a morta.
O coveiro João Cruz fez o enterro de Claudia Regina num dia de muita chuva. Artur, da funerária, auxiliou a descarregar o esquife que, escapando das mãos dos dois, bateu no chão, abrindo-se a tampa.
- Um pouco antes de tirar o caixão do necrotério, ela me passou a mão gelada dentro do carro - disse Artur.
Logo em seguida, chegou o ajudante José dos Reis e então a colocaram na cova. Mas no livro do cemitério, o nome dela sumiu da página número dez. E José dos Reis já a viu entre os túmulos, à tardezinha.
Levaram meses as discussões sobre a existência da Loura Fantasma. Tratava-se de uma reencarnação incompleta, disse um médium muito conhecido. Há tempos ela aparecera em Belo Horizonte, quando Carlos Drumond de Andrade lhe dedicara um poema. Artigos de parapsicólogos e do Instituto Wing Chong concluíram que o caso não era do Além, porém do Aquém.

Quanto a Wilmar, que chegara a pedir para ser preso, tentando livrar-se do mundo, da polícia e de Claudia Regina, já não era o mesmo de antes. Vivia assustado, falava gaguejando. Se era reconhecido ao volante de taxi, a passageira pedia que parasse, pagava a corrida e fugia. Tinha vontade de chorar - queixava-se.
De Diamond, restaurador de cadáveres, despedido da funerária, nunca mais se soube. De Claudia Regina, sabe-se que um rosto, metade carne, metade gesso, relampeja quando a cidade de biparte à meia-noite.

Fantasmas de meia-noite, envolvendo com as asas negras a cidade indefesa, esvoaçavam, debatiam-se contra s paredes dos prédios da Rua Mateus Leme. Mas quem é, nessa rua sem fim, o demônio de cabelos dourados luzindo em meio às asas, postado na esquina?
Será que o "duplo" sai para namorar enquanto a dona dorme? Ou é a alma de megera a fazer mal durante o sono? Ou, ainda, uma simples imagem no ar captada por secreto sentido? E se for uma bailarina viva de casa noturna? É hora de necrófilos violarem túmulos, desenterrarem cadáveres, e na alameda macabra escancara-se a porta do além-túmulo, trevas crocitando no arvoredo.

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